Passei só para compartilhar um pensamento nada reconfortante que tive na semana passada, sentada dentro do avião, voltando para casa, um dia depois da tragédia do vôo da TAM. Lá estava eu, sentadinha e sacudindo os pés, com o cagaço que sempre me acompanha em viagens aéreas - um pouco mais dessa vez, claro, devido às circunstâncias. Então comecei a pensar nas maiores tragédias que podem acontecer quando se está no céu, lugar que, segundo me ensinaram em meu colégio católico, você só deveria conhecer depois que batesse as botas... mas como é de conhecimento geral, o homem (ah, esse danadinho!) deu um jeito de antecipar as coisas. Aliás, às vezes paro e penso sobre isso, e ainda acho inacreditáveis certas coisas que o homem foi capaz de construir. Há um tempo atrás me peguei contemplando a genialidade de se construir um viaduto. Sempre nos ares. E fiquei pensando que eu nunca pensaria num negócio desses. E que se dependesse de mim, sei lá, descobrir a eletricidade, e ainda que eu tivesse mil anos para essa tarefa, estaríamos todos indo dormir às 5 horas da tarde todos os dias; logo, o mundo seria bem melhor! (Isso eu pensei agora... sono!)
Enfim, continuemos antes que eu me perca! Estava eu pensando nas tragédias que poderiam acontecer, pensamentos que me acompanham muito frequentemente, devo dizer, mesmo quando estou andando de ônibus (imagina se o ônibus vira e cai do viaduto!), e fiz o que costumo fazer nesses momentos de medo gratuito: comecei a rezar, freneticamente. E fiquei lá, pedindo pela minha segurança e de todos que estavam naquela mesma situação, quando me passou um pensamento muito pouco ou nada reconfortante, como mencionei no início: entre as cento e oitenta e tantas pessoas que estavam lá naquele avião que explodiu, quantas delas, ou quantas dezenas delas, talvez, não teriam feito esse mesmo ritual, pedindo aos céus (olhando para o lado?) por suas seguranças? Muitas, sem dúvida. E o final da história todo mundo sabe. De repente fiquei ainda mais sem chão do que é possível ficar quando se está nos ares. Não parei com as orações, mas doeu pensar em nossa fragilidade, no desespero, nos segundos finais daquelas pessoas – rezando e pedindo, sem chance de serem atendidas. E foi isso que me deixou muito pouco ou nada reconfortada, principalmente durante as turbulências.
Wednesday, July 25, 2007
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3 comments:
Muito bonito, esse post seu. Carne e osso são coisas frágeis demais pra garantirem algo tão importante quanto vidas humanas, não acha? Eu acho.
Uma das pessoas que morreram nessa tragédia era conhecida de uma amiga minha de São Paulo. Era a comissária-chefe do vôo, Cássia Negretto. E é justamente a história dela que talvez seja a mais repleta de ironias tristes e desconcertantes:
http://oglobo.globo.com/sp/mat/2007/07/19/296862199.asp
-x-x-
Por outro lado... não sei se é pelo fato de eu nunca ter posto os pés dentro de um avião na vida, mas nunca tive medo desses meios de transporte que "andam com o buraco do lado" (copyright Ariano Suassuna). Talvez pq eu seja mais racional que uma calculadora científica, e tenha fé desmesurada em estatísticas e dados empíricos. Se tenho medo de alguma coisa, só se for da pista de Congonhas molhada, e olhe lá. A BR 101 na chuva deve ser bem mais perigosa, não acha?
Tanto que, logo após o desastre do vôo da TAM, eu fiquei argumentando com uma amiga minha pra ela não desistir de entrar numa escola de comissárias de bordo. Eu tenho medo do meu racionalismo. :P
De toda forma, vc não está só:
http://altovolta.apostos.com/archives/2007/07/bergkamp_genio_1.html
mto verdade, mto verdade. muita crise espiritual, sabe? e mtas ramificações. to vaga, whatever.
mas...
todo mundo ia dormir às 5 da tarde e o mundo seria bem melhor! hahahahahahahahahahahah
Exatamente o que tá nesse blog que você indicou (q, btw, adorei), edson, 'tornar natural o antinatural', é exatamente isso que penso! Como pode, céus, aquele trambolho acima das nuvens? Como encarar isso com naturalidade, como se estivéssemos todos, sei lá, sentados em um piquenique? Não consigo! Eu tento aparentar tranquilidade, mas minha mente vai a mil sempre que estou lá nos ares!
As estatísticas costumavam me consolar até esses dois últimos grandes acidentes. Sei que a probabilidade de um acidente na BR 101 é bem maior, mas, não sei, a sensação de impotência é menor.
Tragédias são todas muito improváveis, até o exato momento em que acontecem.
Ah, sim, e bem vindo ao meu humilde lar virtual! :p
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