Wednesday, July 30, 2008

(...)

Tem umas coisas engraçadas a mente da gente. Essa mania de imaginar muito, mil situações, conversas, toda uma outra vida, às vezes coerente com a real, outras tão totalmente aleatória... Mas aí, pensa assim: qual a diferença entre uma vida vivida na sua imaginação e a memória de situações reais? É, memória, coisas que realmente aconteceram, mas que agora são só imagens na sua mente... Assim como a sua vida imaginada. São a mesma coisa, não? Ou quase? Tem situações que a gente vive que já nascem com cara de momento imaginado... você pensa: isso tá acontecendo mesmo ou eu estou imaginando...? Parecido com aqueles sonhos tão reais, e ao mesmo tão improváveis, que você se questiona, ainda dentro do sonho: será que isso tá acontecendo mesmo ou estou sonhando? Aí você se força a descobrir a verdade e de repente se encontra, desolado, apesar de confortavelmente aninhado, em sua caminha...

Confuso, confuso... mas pode ajudar bastante também. Você pode inventar finais para situações que não tiveram um desfecho devido... “E então ela caiu do precipício e morreu. Fim”. Simples assim. Podem ser coisas menos trágicas também, claro... só queria deixar bem clara a idéia. Ou então, comodamente, podem servir para que você não dê maior importantância a coisas não tão bonitas que você faz... "Ah, passou, e não teve maiores consequências na minha vida..." Situação imaginada ou memória? No final, não faz muita diferença. O furo na ‘Matrix’ acontece se essas pessoas/situações ainda influenciarem ou fizerem parte de sua vida presente. Mas aí você arranja outros jeitos de se resolver com a realidade.

Além disso, continuando a viagem, penso eu: o que tem mais significado, o que te marca mais? Aquilo que aconteceu, que já passou e virou memória ou a vida imaginada, sempre viva e aberta a novas e inesperadas reviravoltas?

Enfim, divagações aleatórias...

Friday, July 18, 2008

Triste dia feliz

Triste. Triste dia feliz. Último dia de trabalho. Há quatro anos por lá, todos os dias. E hoje foi o último.

Começou como outro qualquer. Atraso. Chego, sala quase vazia, só o companheiro mais recente já está por lá. O chefe, querido, admirado, pessoa rara, como sempre, ainda não chegou. Chega por volta de meio dia.

O companheiro mais recente continua com suas piadinhas de "não se vá, por que vai nos abandonar...?". As piadinhas foram constantes no último mês, desde quando a mudança ficou mais inevitável. Almoço comemorativo, mas só com os dois. O resto dos companheiros está de férias, doente, de licença... Comilanças mil, como nos foi peculiar em todo esse tempo compartilhado. Brownie de sobremesa, dividido por três, como de costume.

Voltamos, quase na hora de ir embora. O companheiro de licença aparece, se despede, diz que toda a semana passará no prédio onde trabalharei, afinal o "médico de maluco" dele (apelido dado pelo companheiro mais recente aos psicólogos em geral) fica lá...

O companheiro recente se vai. Segura meu rosto e diz: "Puxa, eu adoro essa menina...". Um beijo na mão, último pedido para que eu não vá... "Não posso ficar, tenho que ir...". "Então eu levo uns biscoitinhos pra você no novo trabalho, semana que vem, ok?" Ok.

Continuo até um pouco mais tarde na sala, terminando um trabalho. Eu e meu chefe. Chega a hora de ir embora...: "Tô indo embora...". Abraço. Caio no choro. Ele me chama de boba, diz que continuaremos nos vendo, diz que tem certeza que dará tudo certo, diz pra eu aproveitar, fazer um mestrado... Não consigo dizer muito, só um choroso "Vou ficar com saudades..." Ele diz que estará sempre por perto, e que logo logo iremos apresentar o trabalho, juntos, em São Paulo. "É...". Pego minhas coisas, vou saindo. Ele pergunta: "Pegou suas vaquinhas?". Sim, peguei, vou indo.

Já está escuro, fui embora muito mais tarde do que de costume. Saio com minha bolsa pesada, levando todas as minhas coisas, inclusive a vaquinha, um de meus enfeites bobos de mesa. O castelo iluminado. Lindo como sempre. Percorro a longa descida até a portaria, chorando, chorando... Não vou sair da instituição, vou apenas mudar de setor, mas esse tempo acabou. O tempo com essas pessoas acabou. Pessoas incríveis. Inesquecíveis.

Chego em casa, entro no meu e-mail. Meu chefe me manda uma mensagem de trabalho, com algumas últimas orientações, e termina, com um ps, assim:

" nossa, você saiu há cinco minutos, mas... QUE SAUDAAAADEEE!!!!....."

E a vida continua, a gente cresce, sofre, evolui, como tem que ser...

* * *

Engraçado que não é a primeira vez que essa situação acontece. Cheguei a mudar de sala, de equipe, tudo igual, no ano passado. Mas é como se eu soubesse que não era definitivo. Na época era para ser, mas, problemas, problemas, e acabou não sendo. Não sofri desse jeito na hora de ir embora. A mudança tinha sido para um lugar fisicamente mais perto, sim, e o projeto não estava totalmente deslocado da equipe antiga. Mas não é isso. Ficamos muito mais próximos nos últimos tempos. Mas sei que, dessa vez, não tem volta. Sem o conforto de estar entre pessoas queridas. Sem o conforto incômodo dos poucos desafios profissionais. Vida nova, vida de gente grande. Desafios de verdade. Medo, medo, medo, mas "continuo a nadar", como dito no post anterior...

* * *

Triste dia feliz. Situações inusitadas, mensagens inusitadas, despedidas, saudades do meu amor.

* * *

Pra terminar a noite, no fundo do poço, pensamento: "Ah, puxa... hoje não vai ter zorra total, é só amanhã..." É-o-fim da linha.

Thursday, July 10, 2008

Continue a nadar... Continue a nadar...

How long, how lo-o-ong, não é mesmo? O motivo da ausência? A ausência de motivo para estar presente! Digamos que a tendência permanece, mas deu vontade de contrariar as expectativas e aparecer por aqui.

Variação de humor é uma coisa. Uma coisa chata, devo esclarecer. Outra coisa chata é ficar travado com situações simples. Vai lá, entra na sala da chefe, agradece o presente, sai, fim de papo. Mas não... é um drama! Tudo sempre tem que ter drama. Mas algumas coisas (sempre elas!) têm mudado. Tenho me forçado a atuar, a aceitar meu papel nesse teatro dos horrores que eu tendo a transformar a vida. E os monstros nem parecem mais tão feios. Sempre dá aquela tensão antes de entrar no palco (qual é a da metáfora teatral!?), mas não me recuso a fazer o que tem que ser feito, a dizer o que tem que ser dito, como muitas vezes fiz. Algumas vezes custa a dar certo, em outras meus passinhos são mais curtos do que deveriam, mas I keep walkin', como diz a propaganda de whisky. Algumas coisas ainda não funcionam bem, mas é isso aí, a vida é uma luta, discovery chanel, papo-terapeuta-e-afins, e tal e tudo. O medo continua lá, ainda não é fácil encará-lo, mas agora eu tenho conseguido mostrar quem está no comando dessa 'joça'* aqui. A joça, no caso, sou eu.

"- Oi...
- Oi, e aí, gostou do presente?
- Adorei... vim agradecer!
- É, achei a sua cara! Que bom que gostou! Serviu?
- Sim, ficou uma graça! Não precisava se preocupar...
- Ah, que ótimo, eu tava devendo o seu presentinho. Ah, escuta, estou tentando marcar aquela reunião, avisa ao seu chefe...
- Ok, pode deixar.
- Tá certo!
- Vou lá..."

É só começar. Oi. Simples assim.

* * *

Acabei não desenvolvendo o tópico variação de humor... é que ele, mais uma vez, mudou, assim como a minha disposição de começar toda a ladainha reclamona...


* joça: s. f., Brasil, gír., coisa complicada; coisa mal conhecida. Essa 'coisa' é mesmo muito abrangente...