Triste. Triste dia feliz. Último dia de trabalho. Há quatro anos por lá, todos os dias. E hoje foi o último.
Começou como outro qualquer. Atraso. Chego, sala quase vazia, só o companheiro mais recente já está por lá. O chefe, querido, admirado, pessoa rara, como sempre, ainda não chegou. Chega por volta de meio dia.
O companheiro mais recente continua com suas piadinhas de "não se vá, por que vai nos abandonar...?". As piadinhas foram constantes no último mês, desde quando a mudança ficou mais inevitável. Almoço comemorativo, mas só com os dois. O resto dos companheiros está de férias, doente, de licença... Comilanças mil, como nos foi peculiar em todo esse tempo compartilhado. Brownie de sobremesa, dividido por três, como de costume.
Voltamos, quase na hora de ir embora. O companheiro de licença aparece, se despede, diz que toda a semana passará no prédio onde trabalharei, afinal o "médico de maluco" dele (apelido dado pelo companheiro mais recente aos psicólogos em geral) fica lá...
O companheiro recente se vai. Segura meu rosto e diz: "Puxa, eu adoro essa menina...". Um beijo na mão, último pedido para que eu não vá... "Não posso ficar, tenho que ir...". "Então eu levo uns biscoitinhos pra você no novo trabalho, semana que vem, ok?" Ok.
Continuo até um pouco mais tarde na sala, terminando um trabalho. Eu e meu chefe. Chega a hora de ir embora...: "Tô indo embora...". Abraço. Caio no choro. Ele me chama de boba, diz que continuaremos nos vendo, diz que tem certeza que dará tudo certo, diz pra eu aproveitar, fazer um mestrado... Não consigo dizer muito, só um choroso "Vou ficar com saudades..." Ele diz que estará sempre por perto, e que logo logo iremos apresentar o trabalho, juntos, em São Paulo. "É...". Pego minhas coisas, vou saindo. Ele pergunta: "Pegou suas vaquinhas?". Sim, peguei, vou indo.
Já está escuro, fui embora muito mais tarde do que de costume. Saio com minha bolsa pesada, levando todas as minhas coisas, inclusive a vaquinha, um de meus enfeites bobos de mesa. O castelo iluminado. Lindo como sempre. Percorro a longa descida até a portaria, chorando, chorando... Não vou sair da instituição, vou apenas mudar de setor, mas esse tempo acabou. O tempo com essas pessoas acabou. Pessoas incríveis. Inesquecíveis.
Chego em casa, entro no meu e-mail. Meu chefe me manda uma mensagem de trabalho, com algumas últimas orientações, e termina, com um ps, assim:
" nossa, você saiu há cinco minutos, mas... QUE SAUDAAAADEEE!!!!....."
E a vida continua, a gente cresce, sofre, evolui, como tem que ser...
* * *
Engraçado que não é a primeira vez que essa situação acontece. Cheguei a mudar de sala, de equipe, tudo igual, no ano passado. Mas é como se eu soubesse que não era definitivo. Na época era para ser, mas, problemas, problemas, e acabou não sendo. Não sofri desse jeito na hora de ir embora. A mudança tinha sido para um lugar fisicamente mais perto, sim, e o projeto não estava totalmente deslocado da equipe antiga. Mas não é isso. Ficamos muito mais próximos nos últimos tempos. Mas sei que, dessa vez, não tem volta. Sem o conforto de estar entre pessoas queridas. Sem o conforto incômodo dos poucos desafios profissionais. Vida nova, vida de gente grande. Desafios de verdade. Medo, medo, medo, mas "continuo a nadar", como dito no post anterior...
* * *
Triste dia feliz. Situações inusitadas, mensagens inusitadas, despedidas, saudades do meu amor.
* * *
Pra terminar a noite, no fundo do poço, pensamento: "Ah, puxa... hoje não vai ter zorra total, é só amanhã..." É-o-fim da linha.
Friday, July 18, 2008
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
2 comments:
Poxa, que triste.
E nãoa dianta pensar "ah, novidades boas virão. novos desafios."
Despedidades sempre são tristes, não importa dq eu tipo. E acompanhadas de novas responsabilidades, novos ambeintes... elas conseguem ser ainda mais cruéis.
snif snif. O texto me emocionou.
O despedir-se de alguém jamais pode ser encarado como um adeus. Não importa quanto tempo ou quantas vidas sejam necessarias, a gente sempre se encontra de novo e de novo e de novo.
Este é o ciclo da vida. Começar... e terminar para começar novamente. Pense nisto! Forte abraço.
Post a Comment